Esse é o passo número um: saber qual é o objectivo. Isto requererá já um investimento pessoal considerável. O passo número dois é pensar no objectivo e no que ele lhe proporcionará quando atingido.
Sempre que pensamos acerca da nossa existência, da nossa vida e da forma como a vivemos e fazemos balanços do que alcançamos até então, temos a possibilidade de revisitar o que até aí foi significativo, as estratégias que implementamos e os recursos que mobilizamos para sermos bem-sucedidos ou não tanto... No início de um novo ano sentimos o mote e, muitas vezes, a motivação que nos parece garantir que as resoluções que traçamos virão a ser concretizados.
O que a maioria desconhecerá ou que, mais provavelmente, tenderá a ignorar é que estabelecer metas para o início do ano, para o início da semana ou para uma qualquer data simbólica tem o mesmo efeito que o fazer numa outra altura qualquer, como por exemplo já hoje. Quantas vezes ouvimos vozes sábias que nos alertam (e nos testam) para “o que é preciso é querer”? Um outro facto é que essa energia dirigida para o que pretendemos no começo de um ciclo é muitas vezes insuficiente para nos mantermos focados e empenhados num período temporal mais longo, que exige outro tipo de estratégias e esforço. É conhecido o recurso a instrumentos como agendas, softwares e apps que prometem aumento da produtividade, através do registo e monitorização de actividades várias. Mas a vontade esmorece, porque a mudança de comportamentos que muitos dos objectivos estabelecidos requerem não encontra aliados numa “simples” formulação de desejos, na informação sobre como os alcançar ou na atribuição de uma frequência ou prazo para os realizar, face ao sacrifício que a mudança de hábitos nos confronta.
Em todas as vezes que facilitei cursos de formação de desenvolvimento pessoal para adultos, para activar o carácter transformacional que a formação deve constituir para as pessoas que a realizam, envolvi e apliquei a ciência psicológica que nos demonstra a eficácia de algumas estratégias para o atingir de objectivos. É que para a alteração de comportamentos “saber não é metade do caminho” como tantos outros sábios apregoam… E sem qualquer pendor de receituário, desafio em tom de ajuda a que façam vingar os vossos objectivos com a aplicação de estratégias com evidência científica.
Se, por exemplo, pretender reduzir o tempo gasto em redes sociais poderá intervir no seu ambiente de modo a que este facilite os hábitos/comportamentos desejados, reduzindo os que pretende ver eliminados. Para isto, a visibilidade e a conveniência dos hábitos/comportamentos são factores críticos. A exclusão das aplicações de redes sociais do seu telemóvel limita a visibilidade e a conveniência desse hábito e, portanto, diminui a probabilidade de usar as redes sociais. Para quaisquer objectivos em que esteja a pensar, torne esses objectivos in-cri-vel-mente específicos. Defina quem, o quê, onde, quando, e registe, veja quantitativamente todas essas diferentes dimensões e isso ajudá-lo-á. Esse é o passo número um: saber, realmente, qual é o objectivo. Isto requererá já um investimento pessoal considerável. O passo número dois é pensar no objectivo e no que ele lhe proporcionará quando atingido e quais são os obstáculos que o podem levar a não cumprir.
Voltando ao exemplo sugerido, reduzir o tempo despendido nas redes sociais permitirá estar mais disponível para o aqui-e-agora e para o saborear mas o aguardar por alguém sem ter que fazer poderá trazer-lhe a tentação de se entreter com o telemóvel e sentir alguma inquietude… Adicionalmente, explore o contraste mental, ou seja, a ideia de visualizar os seus resultados positivos no futuro, depois de atingir o seu objectivo, mas pensando logo em seguida sobre quais poderão ser os problemas no seu caminho. O contraste mental envolve, intencionalmente, a visualização dos resultados positivos e a reflexão sobre os possíveis obstáculos para alcançar esses resultados.
No caso de pretender ter uma alimentação mais saudável, restringir o consumo de álcool e de gorduras poderá ser uma vitória, mas pensar acerca de um convívio gastronómico com os amigos poderá trazer-lhe algumas limitações, mas ajudará pela visão realista e menos facilitadora do objectivo. Ter um plano tão detalhado e interiorizado quanto possível, que permita superar situações desafiantes que surgem automaticamente, sem ter de implicar muita força de vontade é uma mais-valia. De uma forma simples, são estratégias que tenham o formato de um plano “se X então Y" que poderá contribuir muito para o atingir da meta estabelecida. No exemplo anterior, poderá ser: assim que se junte ao grupo de amigos no restaurante e antes de se sentar pedir imediatamente água com gás ou outra bebida não alcoólica.
Mas ainda que tenha compreendido todas estas estratégias, na verdade, a solitude da mudança de comportamentos, o esforço necessário, as idiossincrasias, a influência dos acontecimentos externos e a máquina trituradora do dia-a-dia podem sabotar e muito as maiores das motivações. E, mesmo que conte com um forte apoio social do seu companheiro/a, de amigos e familiares, há um contexto específico em que um profissional pode ajudar. Não há super-heróis. Em qualquer altura do ano!
Artigo originalmente publicado no Observador
Teresa Espassandim
Psicóloga especialista em Psicologia Clínica e da Saúde, Psicologia da Educação, Psicoterapia e Psicologia Vocacional e do Desenvolvimento da Carreira
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