No dia-a-dia da “guerra” pela relevância ou subsistência dos negócios, vemos pessoas trabalhadoras a desempenhar papéis bizarros cujas circunstâncias as levam a sentir que a tal são obrigadas, tantas vezes só ganhando disso consciência (e estranheza) aquando de confronto com a humanidade de rivais, concorrentes ou colaboradores da mesma empresa. Para essas, as trends globais da promoção do bem-estar nos locais de trabalho tardam em fazer-se ouvir, desconhecendo e/ou ignorando a evidência científica que alerta para o aumento da prevalência de stresse, ansiedade, burnout e outros problemas de saúde psicológica nos ambientes laborais e consequentes impactos ao nível do aumento dos custos em saúde e de perdas em produtividade. Algures no tempo, deram os passos para garantir a segurança física no trabalho (porque a tal foram obrigadas por lei), incorporaram quanto muito culturas de “zero acidentes”, mas não se actualizaram no que às necessidades psicológicas básicas das pessoas diz respeito, e mesmo quando face a face a crescentes taxas de turnover, indicadores de estagnação ou insustentabilidade, que nenhum Excel consegue “martelar”.
Os alertas sucessivos de entidades, de que são exemplo o World Economic Forum (WEF), a World Health Organization (WHO), a International Labour Organization (ILO), a European Agency for Safety and Health at Work (EU-OSHA) ou a nível nacional a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) deveriam ressoar ao mais alto nível da gestão das empresas, levando as lideranças a considerar e integrar a promoção da saúde e do bem-estar das pessoas uma dimensão estratégica e transversal a toda a organização. Claro que tal, significa colocar de lado argumentos simplistas e desprovidos de visão de futuro contrários aos que reconhecem o bem-estar como evidência de competências tangíveis e, por isso, que podem ser aprendidas e treinadas, uma contribuição crítica para os negócios e um resultado mensurável.
As empresas e gestores(as) com visão de futuro adoptarão o bem-estar como um índice de acções aprendidas e de comportamento diário, implementando programas de intervenção custo-efectivos que geram retorno, desenvolvendo metodologias de trabalho orientadas para a eficiência de processos e sustentabilidade e, das palavras aos actos, eliminando uma cultura de trabalho que implica que este deve vir antes das necessidades pessoais dos(as) colaboradores(as).
E porque a pandemia COVID-19 colocou a nu diversas vulnerabilidades de negócios, pessoas e empresas em todo o mundo, empregadores estão hoje mais empenhados em realmente construir uma força de trabalho mais resiliente (e não resistente), priorizando assim o bem-estar para a reconstrução da economia.
[artigo publicado originalmente na Human Resources Portugal]
Teresa Espassandim
Psicóloga Especialista e Consultora
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