É progressiva a consciencialização por parte das empresas dos indubitáveis benefícios que a ciência demonstra de um local de trabalho psicologicamente seguro, ainda que seja a conta-gotas a consequente tomada de acção para a prevenção dos factores de risco que o condiciona. Será, porventura mais correta a afirmação que a maioria dos gestores se preocupa com o bem-estar dos colaboradores da sua empresa, mas que destes apenas uma ínfima parte (cerca de 10% em Portugal) implementará procedimentos para lidar com os riscos psicossociais, de acordo com o Inquérito Europeu a Empresas (ESENER-2, EU-OSHA, 2015). Várias hipóteses podemos colocar para justificar estes dados, mas de certo, o desconhecimento da realidade que 3 em cada 5 trabalhadores experienciam problemas de saúde psicológica devido ao trabalho (dados anteriores à pandemia) e que o custo económico destes problemas traduzido em perdas de produtividade ascende a €3,2 mil milhões por ano para as empresas Portuguesas será a mais provável. A narrativa já tão escutada que não será possível suportar a despesa “adicional” de gerir os riscos psicossociais é desacreditada pela evidência científica que demonstra que desenvolver ações para prevenir as causas do stresse laboral, intervir e promover a saúde no local de trabalho representa um investimento com retorno. Investigação sobre o custo-efectividade de intervenções em contexto laboral apontam que os benefícios económicos podem ir até €13 por cada €1 gasto, traduzindo-se num aumento cinco vezes superior da produtividade.
No entanto, e depois de mais de um ano de vivência da situação de pandemia que a todos afectou e continua a afectar, individual e colectivamente, a nível sanitário, social e económico os alarmes soam para o aumento significativo da prevalência de problemas de saúde mental como ansiedade e burnout e encontra eco relevante nas empresas. Estas precipitam-se para a realização desarticulada da sua gestão estratégica de acções avulsas e isoladas, supostamente orientadas para a capacitação dos colaboradores para lidar eficazmente com o stresse e aumentar a sua resiliência psicológica mas que não raramente representam apenas uma oportunidade one-shot irrealista que desperta expectativas mas que não cumpre as eventuais necessidades de desenvolver os recursos dos colaboradores e da organização, de acções integradas e continuadas no tempo. A isto chamo de pandemia de acções ineficazes, que vão proliferando e que apaziguam as consciências da gestão preocupadas com as pessoas e alimentam a falsa ideia que se estará a construir um local de trabalho saudável.
Algumas (poucas ainda) empresas dedicam-se de forma séria a adoptar práticas de gestão centradas na eficiência e na valorização das pessoas, informadas pela ciência que recomenda como boa-prática primeiramente a realização de diagnóstico organizacional que a avaliação dos riscos psicossociais permite e, nessa sequência, agir sobre as prioridades identificadas, alinhando plano estratégico e cultura numa metodologia consistente e de longo prazo. Nessas organizações, os seus líderes genuinamente compreendem que um ambiente de trabalho saudável é aquele em que todos (trabalhadores e gestores) cooperam com vista ao melhoramento contínuo dos processos de protecção e promoção da saúde, da segurança e do bem-estar, tal como definido pela Organização Mundial da Saúde e, como tal, serão mais propensas a inovar rapidamente, a desbloquear os benefícios da diversidade e a adaptar-se bem à mudança (McKinsey & Company, 2021).
Artigo originalmente publicado na Human Resources Portugal
Teresa Espassandim
Psicóloga Especialista
Psicologia Clínica e da Saúde | Psicologia da Educação | Psicoterapia | Psicologia Vocacional e do Desenvolvimento da Carreira
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